quarta-feira, outubro 10, 2007

O dedo no ar.

Uma vez ouvi a frase "A curiosidade é o motor da aprendizagem". Lembro-me numa aula de duas horas de Filosofia, no Liceu de Oeiras, navegando entre Hegel e Kant, ter estilhaçado a modorra daquele final de manhã, perguntando de rajada ao professor se ele gostava de dar aulas e porquê.
Foi a aula mais estimulante de todas as que tive no Liceu. De repente gerou-se debate, abriu-se a porta para descobertas pessoais sobre o pensamento, e lembro-me que desde esse dia as notas melhoraram muito, mesmo nas pessoas que até aí nem ligavam nenhuma aquela aula e a achavam chata, só.
Vem a isto a propósito deste post.
Tenho pena que seja cada vez mais notória uma certa preguiça de pensar, o vício do raciocínio fast food, desabituado de fazer perguntas, de ser curioso, se querer saber mais, pensar mais. Que haja tanta gente a resumir o que somos, fazemos e pensamos, a certezas sempre e só a preto e branco, ignorando o tanto cinzento que também somos.
E aplaudo com entusiasmo quando se encontram espíritos curiosos, que perguntam, que têm a lucidez de se interrogar e que desconfiam do mundo apresentado só a preto e branco.

13 Comments:

At 11:26 da manhã, Blogger Alcabrozes said...

O nosso professor não era cego?

 
At 12:05 da tarde, Blogger Unknown said...

Ainda não li o post a que te referes, mas ao ler o que escreveste não posso estar mais de acordo com contigo.
Perdemos a total capacidade de pensar, a sociedade tolda-nos a visão e embrutece-nos o espirito.
Tento lutar contra este marasmo de frases feitas e vazios de pensamento.

 
At 12:57 da tarde, Blogger Cati said...

Concordo plenamente... pensar dá muito trabalho... para quê pensar se podemos ter tudo bem mastigadinho, pronto a engolir? Essa é uma das causas do insucesso escolar - a falta de vontade e disponibilidade para PENSAR, por si mesmo.
Lendo o post que indicou congratulo-me de perceber que ainda vão havendo oásis no meio do deserto... Um beijinho!

 
At 2:01 da tarde, Blogger FR said...

Depende do professor que se tem.
Os que gostam realmente de ser professores tem alunos brilhantes.

Li o referido post e não pude deixar de me lembar com saudade um professor de Filisofia que tive no 11ºano. Tinha chumbado a esta disciplina com 9.5, e passados dois anos voltei para a repetir, desta vez com um professor dos Açores que se encontrava destacado no Gil Vicente. Algumas vezes era praticamente a única aluna mas nesse ano até consegui gostar da filosofia.
No ano seguinte infeliz com o facto de dar aulas para 2 ou 3 alunos, foi-se embora e eu fiz o mesmo.

 
At 4:06 da tarde, Blogger ELA said...

Obrigada pela referência ao meu post. Bem Haja pela simpatia. Não imagina a falta que fazem estes alunos. Cada vez há menos. Estão todos "formatados" para pensarem como os outros, fazerem o mesmo que os outros... É assustador. Sinto em cada ano o marasmo dos alunos, dos professores, das escolas. Parece que anda tudo anestesiado. O mundo tende a "formar" cidadãos acéfalos, acriticos. Tenho medo do que está a acontecer e sinto-o tão claramente todos os dias. Os adolescentes não só não pensam, como chegam a achar ridiculas as intervenções de quem tenta um espírito critico. Estou desiludida. Desculpe-me o desabafo. Mais uma vez, obrigada.

 
At 5:05 da tarde, Blogger meldevespas said...

Sempre foi a coisa que considerei mais comprovativa de falta de inteligência: o acto de nada perguntar!
às vezes as pessoas pensam que perguntando se expõem e expõem a sua ignorância, mas é exactamente o contrário. Quem pergunda é pq dúvida e quem dúvida é pq pensa, e quem pensa existe (já dizia o outro).
Não sou professora, mas deve ser uma tristeza, perguntar se todos perceberam e receber como resposta vinte pares de olhos de peixe....calados e vazios....

 
At 5:18 da tarde, Blogger fp said...

Bom post...concordo, ás vezes as pessoas param no tempo por causa disso...ou seja...não param para pensar.

 
At 5:24 da tarde, Blogger P.Maria said...

comodismo e a palavra que melhor define esse estado de coisas - que sao os brilhantes pensamentos que todos os dias vemos escapar das cabeças das pessoas -, basta olharmos para o lado no nosso local de trabalho...

 
At 10:32 da tarde, Blogger Roxanne W. said...

pensar...é um tema complicado...
complicado porque exige esforço, procura e significa ceder mais à vontade de perceber do que de continuar sem olhar para trás...
às vezes o pensamento é também a "dor de pensamento" (como dizia o poeta", já que envolve ter que pensar sobre o que somos e isso pode significar alterar tudo o que somos e que achavamos que em nós era um dado adquirido...parece que os "porquês", os "comos" e os "de que modo" abanam tudo até aos alicerces...isso pode significar construir tudo de forma mais sólida, mas significa também destruir tudo e voltar ao zero e é aí que a dificuldade bate à porta...a dificuldade de deixar para trás o que achámos que éramos, o ficar no limbo de não saber o que somos agora, nem o que queremos ser...
todos temos medo de mudar, é como se fôssemos aquele puzzle gigante com milhares de peças ninúsculas...chegamos ao fim e reparamos que uma peça, a última não é a ideal para o puzzle e aí surge o dilema....rever peça a peça?destruir tudo e começar outro?ou fingir que a peça é a perfeita com um pedaço de fita -cola?
será que o remendo resulta por muito tempo?...

ps- a mim isto tudo me lembra também o Clube dos Poetas Mortos...ainda hoje tento subir para cima dos muros e tentar ver as coisas de outra perspectiva...ainda hoje olham para mim e dizem..."já devias ter idade para ter juízo" ou então "és uma grande maluquinha"...há alguma mal em querer ver a loja para além da montra?

ps2- curioso é que venho lendo este blog ha um mês mas só neste post decidi mesmo comentar...decidi entrar na loja!

 
At 9:38 da manhã, Blogger A. said...

As aulas de filosofia, a adolescência ao rubro, as primeiras aventuras, os primeiros amores... uma época especial, determinante e inesquecível.

 
At 12:26 da tarde, Blogger Telmo said...

lamentavelmente, é cada vez mais assim.
se a pessoa apresenta sintomas de depressão, não tem 5 minutos para pensar, no porquê. exige ao seu médico os comprimidos mágicos, que a farão ultrapassar aquela dita "fase", não aceitando sequer que possa ser ela a causa da sua própria doença...

 
At 12:17 da tarde, Blogger  said...

Lembro-me nas aulas de fiscalidade....tinha muitas questões....ninguém gostava que eu perguntasse tanta coisa...tavam lá para dormir...já nas aulas de duvidas antes dos exames....tavam lá todos para ouvir as respostas às minhas duvidas... aí num se queixabam os malandros!!! hihihihi

 
At 12:17 da tarde, Blogger  said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 

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