A selva.

- Ò pápi (sim agora trata-me assim) tu agora eras um tigre muita grande e feroz e eu fugia e depois tinha uma espada e já podia defender-me.
E lá ando eu de gatas, a inventar rugidos e garras, e ele a rir de tão contente.
Depois peço-lhe para descansar um bocadinho que o papá está cansado. E ele: mas os tigres são muito fortes e nunca se cansam!
E eu: ai cansam cansam.
E ele senta-se com as pernas á chinês, enquanto eu lhe explico que sim, os tigres cansam-se, e fazem ó-ó e ficam velhinhos.
- E depois morrem?
- Sim filho. Um dia morrem.
Ele fica um bocadinho a pensar, depois pega no taco de plástico de mini golf que só o é para quem tem a incapacidade incrível de não perceber logo que aquilo é uma espada, e , com aquele sorriso que é a coisa mais linda que o mundo já viu, diz, muito despachado:
- 'Tá bem papá (alterna o "papi" com o "papá") mas agora já não estás cansado e não és velhinho e não vais morrer, porque tu não és um tigre mesmo mesmo a sério, por isso anda!
E o jardim é uma selva, o caçador tem um boné de ganga, e uma espada amarela; o tigre sim está cansado mas continua a rugír e a persegui-lo como pode, e não tarda nada ele quer lanchar e vai pedir "leitinho no biberon" (ele diz á francesa).
E o tigre dá.