"O Pelotão toma atenção!"
Espreitei aquela coisa da 1ª companhia, na TVI, e dei comigo a recordar os meus tempos de Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas. Foi em 94 ou 95, já não sei bem. E olhando para o reality show, consegui, apesar das óbvias distâncias, recordar aqueles tempos. Quase julguei sentir de novo...o cheiro. Das camaratas, da terra, do refeitório. O frio cortante daqueles meses de Outubro, Novembro e Dezembro. Aquela chuva. A sensação de íncrivel desperdício de tempo. O culto generalizado da inércia. As "instruções" desfazadas de qualquer realidade cá fora, no mundo. Os joelhos todos lixados para a vida toda. "Toma um comprimido ao deitar que isso passa". Os comprimidos cor de rosa receitados a toda a gente que se queixava, independentemente do que fosse. O rídiculo do exercício do pequeno poder por analfabrutos que, de repente, tinham umas divisas e achavam que tudo podiam. Mas também lembro a incrível camaradagem, aquilo a que chamavam "Espírito de Corpo". A solidariedade entre gajos que não se conheciam e que não voltei a ver. Um tipo de apelido Subtíl e que foi um dos mais extraordinários exemplos de humanidade e carácter que jamais conheci. Que será feito dele? Um sargento, chamado Durão, que era rigoroso lá dentro, mas um senhor, que fazia o seu trabalho, mas respeitando as pessoas. Lembro o dia em que todos os pelotões foram chamados a formar na parada, para nos dizerem que tinha falecido um cadete durante uma instrução nocturna. Lembro o embaraço. O choque.
Lembro o dia em que foi toda a gente chamada à parada, 600 e tal gajos desejosos de sair dali para fora e de anunciarem: Excesso de contigente. "Para 6 de vocês o Natal chega mais cedo."
Até os não crentes pediram a Deus para ouvir o seu nome. Eu pedi, pedi muito. Quem saltou foi afinal um tipo que era dos Açores e vivia assustadíssimo naquele planeta estranho que era a EPA de Vendas Novas.
Nunca mais lá fui. Mas gostava. Um dia deste irei, e sentirei, com a distância apaziguadora que o passar do tempo constrói, que aqueles meses foram marcantes, aquela semana de campo debaixo de chuva e envolvida num frio obsceno; aquele exercício que não consegui fazer porque, basicamente, nem andar conseguia (os comprimidos deviam ser smarties). E o frio do banco de madeira, no velho camião militar, que já "tinha ido à guerra".
Sobretudo o alívio, meses mais tarde, já no CPMAI em Lisboa, quando me disseram: "Furriel Ribeiro passa hoje à disponibilidade".
12 Comments:
lool
eu livrei-me disso. Agora só se tem que ir ao dia da defesa nacional, que é praticamente das 9h ás 5h a ouvir dizer que a tropa é muito fixe e que se recebe muito dinheiro lá.
A mim não me enganam eles :D
O mais fixe foi a subida á torre que tem uma visão magnifica da cidade do porto, e do pessoal a desmontar uma G3 (sim, ainda se usa)...
De resto foi grande seca :/
Mas é sempre melhor que ir á tropa :D
(grande comentário, desculpa lá, exagerei)
OHHHH PEDRO?????
COMO É QUE ESTE BLOG É TODO VERDEEEEEEE????? LOGO O TEU BLOG?
O QUE SE PASSA AQUIIIII????
zita
atiz.deviantart.com
Ao que parece a trampa de programa da TVI levantou a mesma nostalgia em nos, mas a minha por sinal um pouco melhor.
Foi um bocado antes mas também registei um pensamento destes no meu blog.
É giro. Oiço pessoas que não gostaram da tropa a contarem coisas da tropa. E oiço pessoas que gostaram da tropa a contarem coisas da tropa. E chego sempre à mesma conclusão: a tropa é uma coisa muito estúpida.
Ah, a beleza do Serviço Militar Obrigatório! E a utilidade, sobretudo a utilidade! Viva o seu fim e a única coisa de jeito que o Paulo Portas fez...
epá... não tem nada a ver... mas Tom Sawyer? Deixaste-me emocionada logo de manhã! ehehe
Eu recordo com emoção os meus tempos de tropa.
Foram os dois dias mais bem passados da minha vida! LOL
Pois é... por acaso o blog ser todo verde é no mínimo estranho.
Pedro, se quiseres ofereço-te alojamento profissional, com o Word Press, para o teu blog com endereço do tipo http://osdiasuteis.blog.com.pt, cortesia do Blog.com.pt, ou endereço próprio .com ou coisa que o valha.
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Opss... ficou esquecido o contacto: wonderm00n@gmail.com
Pois... nunca passei pela tropa... mas o que vejo é um grupo de pessoas em situações extremas o que cria o tal 'espirito de corpo' admirável entre pessoas que não se conhecem, parece-me positivo!! Aliás, todos nós no decorrer da vida passamos por situações dificeis num grupo e isso faz-nos criar laços especiais com essas pessoas! Bjs!!
è um pouco o que quase todos passamos. As manhãs de Abril de 90 na EPI - Mafra - o gelo, o exemplo por sermos da escola pratica de infantaria, a disciplina e união . Uma abraço a todos que por lá passaram . 1º turno de 90
O meu furriel dá licença?
Nunca fui à tropa mas gosto do programa.
Também gosto bastante do teu blog. Acho que é um bocado o espelho da imagem que tenho de ti (e que está em tudo o que fazes). Boa onda, simpático e terra-a-terra. Uma autêntica "estrela" (pelo menos no nosso panorama nacional) mas ao mesmo tempo um "gajo normal". Podias ser o amigo porreiraço que vai à bola ou para os copos com o pessoal.
Este post fez-me lembrar as aventuras que um amigo me contou, também em Vendas Novas, e que inspiraram a fazer este post.
Vai lá espreitar se te apetecer!
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