quarta-feira, novembro 17, 2004

Mais uma do livro-que-não-é-ainda-e-nem-sei-se-chegará-a-ser :-)

A última vez.

-Sim.
Desligou o telefone e ficou por um instante a pensar…Ela constrangida, ele só triste.
Depois do sim e antes do som da linha telefonica houve um suspiro mudo mas arrastado, que ele percebeu e que ela sem querer tentou mascarar. Eram amantes. Naquele “sim” estava a resposta a uma hora e um local e foi nesse instante que eles perceberam que eram amantes há demasiado tempo. Ainda estremeciam quando se tocavam, ainda sentiam falta um do outro, mas acreditavam cada vez menos nas promessas que tinham feito de que a vida ia mudar para eles, um dia.
De tanto darem tempo ao tempo, o tempo passou-se e o fruto proíbido perdeu a validade…Ele pensou como era inutil andar à espera que ela viesse ter com ele de vez, se ela o tinha sempre que lhes era possivel e depois nada mais mudava. Ela não teve força para deixar o marido, que a esperava paciente e enganado, em casa com as pantufas. Ele não tinha forças para deixar de estar com ela, porque a amava. Era tudo doentio e belo. Um dia combinaram um sitio e uma hora…ele deixou o programa pendurado numa frase que saiu estranhamente triste, com um inédito desalento. Ela respondeu “sim”.
Não voltaram a encontrar-se senão muito mais tarde e aí nem sequer falaram.
Ele olhou-a como quem pergunta “tudo bem ?”.
Ela olhou-o como quem responde, triste, “Sim”.



96.Fev.21

1 Comments:

At 11:06 da tarde, Blogger Scully said...

"Ela constrangida, ele só triste." P., isto marca.. Fez-me lembrar um livro que comecei a ler e ainda não acabei e que uma pessoa muito especial me ofereceu e por isso me custa ainda não ter lido (amor, eu leio, juro). Não sei como será o resto do "Livro-que-não-é-ainda-e-nem-sei-se-chegará-a-ser", mas sei que o que li é bom. Bom demais para ser ignorado ou deixado nos rascunhos.
Escrever faz bem, e se temos o "bichinho", faz-nos bem a nós e a muita gente.
Love.

 

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